sábado, 8 de novembro de 2008

Insofismável



INSOFISMÁVEL

Este corpo que atravessa a vida, a garganta, o tempo
atravessa o fosso, a fossa, o vento
sempre mensurável como o gado e o feno

Este corpo, irrecusável instrumento, indissoluvelmente afinado com o tempo
luta para se manter atento, pulsante e, às vezes, dormente
como porta, concha, moinho, cata-vento

Atravessa a noite, o sono, o sonho, a estação, o trem
a fronha, o cabelo, o pente

Veste caras, amores, rancores, bocas, dentes
abraços, espantos, pássaros, serpentes.

Atravessa o gozo, o abraço e a aguardente

Contudo, acorda pesado
e só não consegue atravessar a cova, a faca, a dor de dente.

Hideraldo Montenegro
http://www.clubedeautores.com.br/book/148379--INDECIFRAVEL

5 comentários:

Jana Lauxen disse...

Hey, muito bom!

:)

nydia bonetti disse...

Difícil dizer dos teus poemas, qual o mais bonito, Hideraldo. Este, achei fantástico!
beijo!

Anônimo disse...

Un consejo, cambia la foto de tu perfil porqué tienes una pinta de gayón que no puedes con ella...
Feliz año nuevo!

Gerusa Leal disse...

E por falar em achados, não é, Hideraldo? Esse poema todo é um, são vários. Leio e releio e o poema me fala.
"Este corpo, irrecusável instrumento, indissoluvelmente afinado com o tempo
luta para se manter atento, pulsante e, às vezes, dormente
como porta, concha, moinho, cata-vento"
Chega a doer de tão belo.

Márcia Sanchez Luz disse...

Lindo poema, Hideraldo! Eu ia destacar alguns versos, mas a Gerusa chegou antes de mim...
Parabéns pelo blog.
Obrigada pela doce mensagem que deixou no blog do Rogel a respeito de meu "Lua Negra". Sua generosidade me comove!

Um beijo em seu coração,

Márcia