segunda-feira, 10 de novembro de 2014
sábado, 28 de junho de 2014
REFLEXO

A cidade tatua no peito
os percursos dos pés
A cidade invade o leito
das águas que deságuam
em viés
os sonhos das flores
que convidam os insetos
ao beijo das cores
A cidade me convida
a sonhos de luzes
que se repartem
nas águas no brilho
dos meus olhos
Hideraldo Montenegro
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sábado, 31 de maio de 2014
IDENTIDADE

IDENTIDADE
Que povo eu sou
que senta comigo no sofá
e que assiste a TV embasbacado?
Que povo eu sou
se não sou um
mas muitos nós?
Que povo eu sou
que vai à missa
e pede perdão e pede clemência
e salvação pelos erros
que cometem conosco comigo?
Que povo eu sou
incompleto e perdido?
Que povo eu sou
que vivo olhando
para o meu próprio
umbigo
e não me encontro em mim
mesmo nos outros eus?
Que povo eu sou
se não sou eu?

Que povo eu sou
que senta comigo no sofá
e que assiste a TV embasbacado?
Que povo eu sou
se não sou um
mas muitos nós?
Que povo eu sou
que vai à missa
e pede perdão e pede clemência
e salvação pelos erros
que cometem conosco comigo?
Que povo eu sou
incompleto e perdido?
Que povo eu sou
que vivo olhando
para o meu próprio

e não me encontro em mim
mesmo nos outros eus?
Que povo eu sou
se não sou eu?
Hideraldo Montenegro
EM TEUS OLHOS FLORESTAS

EM TEUS OLHOS FLORESTAS
Em teus olhos florestas
acendem palavras
demarcadas pelo espanto do invasor
O riso é flor em marcha
d’alma envolvida em dor
Em tua boca o território
se recolhe à taba
e escondes tua nudez
como fosse praga
A cicatriz já foi posta
em tua alma mata
e tua garganta vomita canções
de saudades vindas
e um passado que não deságua
Vontade de ser mãe
terra saudade da ausência
de quem ficou
nos limites extremos
entre a civilização e a farsa
e a falta de pudor
do explorador
A tua tribo se levanta
e o arco alcança
a flecha que não foi
arremessada atinge
o sangue do arremessador
-a submissão do braço
não confessa a fervura
da idéia
E teu canto graúna
assume a bravura
de uma graça que não era
para a guerra
Hideraldo Montenegro
SINAIS
SINAIS
Essa
alma inscrita no tempo
marca um espaço temporário
paradoxalmente eterno
marca um espaço temporário
paradoxalmente eterno
Hideraldo
Montenegro
INDECIFRÁVEL
INDECIFRÁVEL
O poema que não escrevi
é feito de carne
tem nome largo
e palavras de forma
O poema que não escrevi
dorme comigo todos os dias
revira meus sonhos
torna-se insônia
O poema que não escrevi
come, bebe, faz sexo
e, às vezes, sai pelo nariz
O poema que não escrevi
vive na lama, no lixo
no luxo, na cama
O que poema que não escrevi
é macho, puta, bicha louca
-desenho que não sai da boca
O poema que não escrevi
é leve, é pluma
pesado tiro
é chumbo, é morte
é casulo, é seda
é sorte que não chega
O poema que não escrevi
se inscreve em mim
como cicatriz
como uma dor, um parto
um sapato apertado
O poema que não escrevi
Jamais escreverei
O poema que não escrevi
é feito de carne
tem nome largo
e palavras de forma
O poema que não escrevi
dorme comigo todos os dias
revira meus sonhos
torna-se insônia
O poema que não escrevi
come, bebe, faz sexo
e, às vezes, sai pelo nariz
O poema que não escrevi
vive na lama, no lixo
no luxo, na cama
O que poema que não escrevi
é macho, puta, bicha louca
-desenho que não sai da boca
O poema que não escrevi
é leve, é pluma
pesado tiro
é chumbo, é morte
é casulo, é seda
é sorte que não chega
O poema que não escrevi
se inscreve em mim
como cicatriz
como uma dor, um parto
um sapato apertado
O poema que não escrevi
Jamais escreverei
Hideraldo Montenegro
Epitáfio

Matriz da Igreja Católica de Moreno - PE
EPITÁFIO
Terra, minha terra
eis que me devolvo:
tua poesia, teu ovo.
Devolvo-te os sorrisos escrotos
meus sonhos, meus brotos
minhas esperanças, meus mortos
e, agora, o meu inútil corpo
Devolvo-te o cheiro
destes eucaliptos que acenam
despedidas e boas vindas
aos filhos errantes, retirantes
nesta ilha latifundiária
e agreste de oportunidades
e sonhos delirantes
Devolvo-te tuas verdes colinas
o Societé, a Praça da Bandeira
as rochas, insensíveis, indiferentes
as Sevis, as Brandinas
os servis, a falsidade,
a dor de dente
o dinheiro

para pagar

teu odor, tua latrina
o futuro e o presente

Devolvo-te o Poço da Nega
o schistosoma
a Travessa da União
a política coma
o engenho, o mel
e a ausência do pão
Devolvo-te o peito,
o sangue derretido, o veio
o clamor, o povo sofrido
o cordão umbilical, o pleito
Devolvo-te teus governantes
que fingem festas, festivais
votos e sorrisos bacanais
embora deixem deserdados
os irmãos natais
Devolvo-te o teu povo
que abre-se fabril
a outros abraços operários
- cicatriz anil
tecida em pele, pavio
Devolvo-te minhas noites,
meus açoites, o salário canavial,
a hipocrisia, a água batismal,
a pia, teu vazio cultural
teu sangue, teu corpo
tua gente, teu sal
Devolvo-te os puteiros
a tua falta de perspectiva,
e a pátria amada sepultada
pela enxada do coveiro
o grito incontido
o escritor, o tinteiro
Devolvo-te tudo
exceto tua moral
Belge Bresiliene
pacífica, morenense
e teu involuntário
abraço final
- cana de açúcar
teu bem, teu mal
A Terra dos Eucaliptos
finalmente receptiva
e acolhedora
abre a sua boca voraz
para me receber
quando não estou
mais nem aí
e não quero saber
Hideraldo Montenegro
Cicatriz
para Graça Graúna
Solano sol
de cada manhã
a cor
do sol
doura a pele
de liberdade
a cada passo
a África
colada
à sola
da caminhada
é asa
Solano sol
poesia e rouxinol
canto da manhã
na cor
desterro e dor
de uma pátria
colada à sola
da caminhada
a cadência
marca
a fala
e fertiliza o chão
por onde a África
passa
Solano sol
da fala
a cor é flor
na marca
a pele
aberta
desabrocha o sorriso
na dor
como uma flor
nasce
no asfalto
como um assalto
um sobressalto
dos pés
na caminhada
que a pele
livre
carregada de sol
fez da cultura
humana
beija-flor
Hideraldo Montenegro
sexta-feira, 30 de maio de 2014
RECIFE
RECIFE
Recife e seu banho de águas
Recife mergulhado nas águas
bebe pontes e brilhos
e o sol se reparte nas águas
em estrelas mil
Recife repartido
em pontes que atravessam
a vida da gente
Recife repartido
em gente
-pingente no pescoço
e grito no asfalto
não disfarça a criança
que salta na vida
pelas pontes que unem
todos nós
ao mesmo mangue
Recife sangue
da gente
pelas veias
das pontes
que se constroem
nos rios da cidade
que nos habita
Hideraldo Montenegro
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