quinta-feira, 12 de maio de 2011
EM TEUS OLHOS FLORESTAS
EM TEUS OLHOS FLORESTAS
Em teus olhos florestas
acendem palavras
demarcadas pelo espanto do invasor
O riso é flor em marcha
d’alma envolvida em dor
Em tua boca o território
se recolhe à taba
e escondes tua nudez
como fosse praga
A cicatriz já foi posta
em tua alma mata
e tua garganta vomita canções
de saudades vindas
e um passado que não deságua
Vontade de ser mãe
terra saudade da ausência
de quem ficou
nos limites extremos
entre a civilização e a farsa
e a falta de pudor
do explorador
A tua tribo se levanta
e o arco alcança
a flecha que não foi
arremessada atinge
o sangue do arremessador
-a submissão do braço
não confessa a fervura
da idéia
E teu canto graúna
assume a bravura
de uma graça que não era
para a guerra
Hideraldo Montenegro
A TINTA ESCREVE PALAVRAS TINTAS
Mas, num dia só gaivotas reviravoltas
em torno de mares e olhares alhures
navegantes soturnos de vidas presas pescadas
em bicos e anzóis toda solução está na cor do mar do olhar
em torno da vida o beija-flor beija a flor e corre risco pelo néctar
do bico a boca abre a flor e fecunda a bica e o pio
todos os olhares voltam-se para si mesmos
nada sai inteiro a tinta do tinteiro escreve palavras tintas
HIDERALDO MONTENEGRO
EM MEUS LÁBIOS NENHUMA PALAVRA
EM MEUS LÁBIOS NENHUMA PALAVRA
Concentrado em meu desejo antevejo o gozo
de um prazer inalcançável
procuro nos dedos o que resta de ti
-Uma sombra que se esvai
em meus pés o caminho se desfaz
sempre nas voltas de desenhos
não realizados na estrada
Tudo é aconchego em esperanças
tratadas como sonhos
em meus lábios nenhuma palavra
é esboçada para firmar o recorte
da quimera do beijo
HIDERALDO MONTENEGRO
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